17.12.04

ANINHA

No último ano da faculdade, toda quinta e sexta minha turma emendava a última aula direto pra night. O Luciano, o cara mais "alegre" da turma, deu a idéia de ir a uma boate GLS que estava fervendo na época. Ok, sem preconceitos, eu me dava bem nesse tipo de balada, afinal a mulherada simpatizante como eu costumava ser mais louquinha, masi acessível.

Chegando lá, realmente a balada bombava. Sem muitas demonstrações gratuitas de viadagem, o local oferecia um número razoável de gatinhas metidas a modernex. A noite prometia, mas eu ainda precisava de um pouco de álcool. Fomos pro bar.

Lá estava eu, terminando meu primeiro copo, quando chega o Luciano, todo esbaforido, contar para a turma que a Ana Paula Arósio estava dançando na pista. Ah, devia ser alguma menina parecida com ela. Quem conhece o Luciano, sabe que ele gosta de inventar. Ok. Virei pro balcão e pedi mais uma vodca.

As meninas foram pra pista e fiquei eu lá, no meio da bicharada, esperando meu drink. Sem stress. Era só não dar moral, que ninguém chegava junto. E nada da minha vodca. Encostei a barriga no balcão para cobrar o barman, mas ele estava no outro canto do bar. Nisso, alguém cutuca meu ombro. Devia ser o Luciano para contar que tinha mais algum ator da Globo na balada. E nada da minha vodca.

Eu virei bufando para ver o que era e... me deparei com aqueles dois olhões azuis, aquela cara de anjo, aquela boca doce se mexendo:
- Oi, como é que você chama?

Não, aquilo não podia ser verdade: a Ana Paula Arósio, na balada, vindo me xavecar... Mas ela estava ali, sim, arregalando os olhos, esperando alguma resposta.
- Ehhhh... Flávio. E o seu? - eu sabia que tinha feito uma pergunta idiota, mas ela respondeu tão rápido...
- Aninha. - ah que meiguice, que doçura, que...

Mas ela veio chegando mais perto:
- Então... é que eu queria... - obrigado Deus, eu nem tinha sido tão bom rapaz assim, mas tudo bem.
Ela colocou a mão na minha cintura:
- .. eu queria te... - milhares de verbos passavam pela minha cabeça, eu já me imaginava terminando a noite, deitado, me olhando num espelho redondo.Ela foi chegando oerto do meu ouvido:
- ...eu queria te apresentar um amigo. Esse é o Cássio.

Imediatamente o que era silêncio se transformou no som ensurdecedor de balada puts-puts. O foco de luz no casal protagonista virou uma estroboscópica. As pessoas reapareceram, a Ana Paula Arósio desapareceu e o amigo viado dela vem e pega no meu braço:
- Oi, você puxa ferro?

Nesse exato momento, chega minha vodca. Eu pego o copo e bato no balcão:
- Ah, vai tomar no cu!

Toda minha educação e meu comportamento politicamente correto foram pro espaço.
- E sai daqui!

Pô, o que você faria se o Nino do Castelo Rá-Tim-Bum chegasse pegando em você?

Bom, depois de tomar o que sobrou daquela vodca, eu só poderia rir da situação. E lembrar até hoje daquela balada como "A noite em que a Ana Paula Arósio veio me xavecar".




25.11.04

SURREAL

A gente passa a vida inteira correndo atrás de mulher. Quando finalmente alguma vem até você por livre e espontânea vontade, ou é dragão ou você já está casado. Materialmente (de aliança e tudo) ou mentalmente (aí é pior).

Num desses feriados que inundaram 2004, depois de lavar o carro, eu peguei minha Preta e fomos encher o tanque cultural vendo uma exposição de arte dadá e surrealista no Instituto Tomie Ohtake, perto da Fnac.

Apesar da má impressão causada pela carambola roxa gigante e pelo reflexo dos espelhos rosa na vizinhança, o lugar é muito bacana. E a exposição era mais ducaralho ainda. O acervo era de um figura que fazia parte da tchurminha dos artistas na Paris da época em que estavam brotando esses movimentos contestadores da arte tradicional.

No público dessas exposições, cada um tem seu ritmo. A Michelle costuma ler os comentários de cada obra muito mais rápido que eu. E se impacienta também muito mais rápido que eu. Lá pelas tantas, ela já tinha visto tudo e eu ainda estava analisando umas peças, já do final. Então eu ouço um comentário feminino atrás de mim:
- Surrèal, né?

Minhas orelhas cresceram para captar mais daquela "conversa" que eu acabava de perceber. Mas... nada. Com o canto dos olhos, fui investigar sem mexer a cabeça de frente para o quadro. Um único par de sapatilhas estava ao meu redor. Nem deu tempo de ver o resto. Uma mão longuilínea se estende apontando algo no quadro:
- Esse céu é surrèal, né?

Achei esquisito, mas não dava para fingir que não era comigo. Me virei para conferir quem estava puxando papo e me surpreendi com uma morena, 20 anos, traços finos, de saia, blusinha... Após examinar detalhadamente aquela obra de arte popular, lembrei que ela estava esperando uma resposta minha.
- É...

Espantosa a minha criatividade, não? Toque de pimenta: aquele sotaque (Bahia, Minas, Goiás?) que ainda vinha acompanhado de um leve bafinho de pinga. Ela tornaria a situação ainda mais surreal.
- Esse céu - apontando para a tela - a gente não vê aqui em São Paulo, sabe, com todo esse espectro de cores. Lá em Minas, o céu é diferente... Você já foi para Minas?

Pronto, agora eu estava feito. Aquele sorriso praticamente me convidava para conhecer a casa dela, em Minas, ou mesmo seu apê, aqui em São Paulo. Só que ela parecia ignorar que eu já estivesse acompanhado. Ok, eu também me esqueci disso por alguns momentos.

Agora seria inevitável, em poucos instantes teríamos a reação de ciúmes da Michelle ao perceber o incipiente "diálogo" em que eu me metia. Qualquer que fosse meu comportamento, eu teria o que ouvir pelo resto da tarde. Decidi prosseguir educadamente a conversa sem qualquer apelo sedutor, como se eu fosse uma senhora de 60 anos.
- Já... Mas faz tempo.

Antes que a mineirinha engatasse qualquer convite, toca meu celular:
- QUEM É ESSA VAGABUNDA?

Quando eu me virei, a mineirinha já tinha sumido, tipo ninja, pressentindo o perigo. A Michelle estava na porta do museu, com as mãos na cintura, batendo o pezinho e foi embora sem me esperar chegar. O pior de tudo ainda é terminar o episódio correndo atrás de mulher.


12.11.04

LUIZA TOMÉ
Sem roupa, sem novela e sem proporção

Alguém viu o outdoor da Playboy deste mês? Fiquei impressionado com o tamanho da cabeça da criança. Deus do céu, alguma coisa foi muito mal feita ali: a montagem de duas fotos ou o código genético da atriz.

11.11.04

VOVÓ AMPGALAXY

Dona Reine Magda tem 87 anos, 5 netos e uma prótese no fêmur. Antes da operação, fazia de tudo, ia a qualquer lugar, e de busão. Quem mandou jogar baralho na casa de uma amiga e não reparar "no degrau que separava a saleta de jogos da sala de jantar"?

Agora, o corpo não mais consegue acompanhar suas vontades. Para quem se orgulha de ter "sangue índio, forte", é difícil aceitar isso. Afinal, sua última temporada em um hospital fôra há mais de 50 anos, parindo uma pessoa. Com a fisioterapia, aos poucos, ela reaprendeu a andar. Eu ofereci apoio. Para que seu corpo não caísse, nem seu ânimo de viver.

O primeira ação do meu Plano de Incentivo à Reinserção da Dona Magda na Vida Social seria um evento gastronômico externo, tipo um jantar. Em vez de levá-la a uma cantina ou a seu restaurante predileto, pensei em fazê-la conhecer um ambiente novo, conceitualmente seria como apresentá-la ao século 21.

Naquela quarta-feira à noite, fomos ao ampgalaxy, o "modernoso" espaço da marca A Mulher do Padre que junta loja de roupas, bar/restaurante e pista de dança (cada um em seu devido andar). O primeiro problema foi explicar pra minha avó o nome do lugar. Para não engasgar soletrando siglas, saí pela direita dizendo que o restaurante chamava A Mulher do Padre. Ela adorou, já pensando na reação das amigas no próximo chá com biscoitos.

Chegando lá, a iluminação digamos que não era das mais ofuscantes. Inquieta por não conseguir ler o cardápio, minha avó se virou procurando um garçom e gritou em direção ao balcão:
- Ô, menino, acende essa luz, que isso está parecendo uma... boate.

1) O menino era uma menina, daquelas que raspam careca e se vestem como recrutas. 2) Nós estávamos em uma... boate. "O menino" tentou explicar isso para minha avó. Dona Magda me interrogava com o olhar, que eu fingi não encontrar, assobiando e observando o teto.

Pedidos os pratos, ela comeu direitinho, tomamos nosso cafezinho, "o menino" trouxe a conta e a gente já se preparava para ir embora. Era quase meia-noite, hora em que já se formava uma fila para entrar na porção balada/discoteca do espaço. Enquanto eu procurava o papelzinho do estacionamento, minha avó tricotava com a hostess, que já havia a convidado para voltar lá, só para dançar. Achei a poulra do papel e, quando o segurança abriu a porta, os descolados ao longo da fila começaram a aplaudir a vovó baladeira.

No caminho da volta, eu perguntei se ela tinha gostado do programa. Ela virou pra mim, arregalando os olhos:
- Milhares.

24.9.04

DETETIVE - ELEIÇÕES

Eu acuso:

Dona Marta na sala de imprensa com o candelabro

Srta. Cássia na biblioteca com o megafone

Prof. Giba no palanque com a faca

Cel. Ferrarini no camburão com o revólver

Apolinário no viaduto de ponta-cabeça

22.9.04

TRABALHAR MAIS PENSAR MENOS TRABALHAR

Vírgulas fazem bastante diferença.* Mas zeros fazem muito mais diferença, se dispostos antes das vírgulas do seu contra-cheque.

Quanto mais zeros, menos você precisa trabalhar. Ou pensar. Mas é aquele pensar-trabalhar, o pensar que dá trabalho. Já o pensar filosófico também dá trabalho, mas quando se propõe a ser prático pode gerar economia de trabalho.

Isso tudo foi só pra falar que eu acho que estou trabalhando demais. E pensando de menos. As duas últimas semanas foram bastante estressantes. Sabe quando você chega bem tarde em casa, moído, quer dormir e não consegue? Quando acorda no meio da noite e não dorme mais, de tão pilhado? Quando não dá tempo nem de ir ao futebol semanal para aliviar a tensão (+ cervejinha básica pós-peleja)? E quando consegue ir, não faz nenhum gol?

Nessas madrugadas em claro, descobri que a TV Cultura transmite palestras sobre filosofia às 6 da manhã. Que a trilogia StarWars em DVD podia ter chegado alguns dias antes. Que pizza requentada no microondas com requeijão não é muito digestiva. E que a filosofia ainda não dimensionou/compreendeu a realidade virtual, onde uns são tão importantes quanto... zeros.

* Que o diga quem recebe e-mails sem pontuação e gasta mais tempo para decifrá-los do que para entender uma poesia concreta.

1.9.04

ADIANDO CASAMENTO e FILHOS

Namorando a 5 anos, eu e minha Preta já comparecemos a inúmeros casamentos. O nosso, por enquanto, ainda é uma incógnita. Eu até queria casar este ano (traje preto do Batman). Mas dona Michelle achou que ficaria muito corrido, então ficou para o ano que vem. Até lá, vamos fazendo pesquisa de mercado. A Mi fica de olho nos espaços, decoração, capacidade, vestidos e o buffet. Eu, nas bebidas.

Aquele era o nosso 24º casamento. Eu não conhecia muita gente além da noiva, filha de um amigo do meu pai, e alguns outros amigos dele. A cerimônia religiosa só teve maus momentos. O padre leu um texto dizendo que a mulher ideal deve ser um ornamento da casa (ipsis literis): bela, calada e de alegria contagiante. O daminho de honra chorou a cerimônia inteira e não entregou as alianças.

A salvação astral da festa aconteceu quando uma moleca de 6 anos, lindinha, cabelos e idéias encaracolados, encostou na nossa mesa e se apresentou. Apaixonei na hora. Como bons animadores infantis, eu e a Michelle fomos pegando a confiança dela, conversando sobre a escolinha, os amigos etc. Ela gostava de Karnak (!), da Pitty (ok, é rock) e da Ivete Sangalo (bom, ela só tem 6 anos). Depois de quase dez minutos de bate-papo, ela foi resgatada pela mãe, à revelia. Ela pedia, já ao longe, pra mandar um e-mail, soletrando seu endereço.

Eu já estava um pouco assustado com a precocidade tecnológica na vida das crianças de hoje. Cinco minutos depois, ela chega correndo: "Oi, você está no Orkut? Me adiciona!". E precisava perguntar?

18.8.04

GRANA, BUFUNFA E DINHEIRAMA

Que fique claro desde o início: grana, bufunfa e dinheirama não são a mesma coisa. A diferença vai muito além da sintaxe, volume ou quantia.

Grana - é o dinheiro do seu dia-a-dia. Aquilo que você tem na carteira. Ou uma quantia plausível de se ter no banco, poupando a cada mês um pouco do seu salário/renda autônoma.


Bufunfa - é uma grana e tanto. Porém de origem escusa. Pode ser do jogo do bicho, trabalho de camelô, comissão de fiscal ou fruto de uma grande negociata. Ainda existe uma leitura positiva, que trata a bufunfa como um monte de grana, feita de bolinhos de notas pequenas, quase sempre sujas. Para ilustrar este caso, no filme "O Incrível Monstro Trapalhão", bufunfa é o que o Wilson Grey tem na sua maleta puída, quando vai cobrar o aluguel da oficina dos Trapa.

Dinheirama - é a bufunfa em escala de seis dígitos. Normalmente encapsulada em cofres de bancos ou em pastas executivas, em maços com notas de cinqüenta ou cem reais. No filme "O Incrível Monstro Trapalhão", os empresáios russos e árabes oferecem uma dinheirama pela fórmula da gasolina inventada pelo Didi, digo Dr. Jegue.

21.7.04

TAMPA ABRE-FECHA

Eu sou um daqueles consumidores do tipo bicho-besta, que lê rótulo, fica analisando embalagem, sempre faz perguntas que os vendedores/promotores não sabem responder... e que, no final, não compra nada.

Numa dessas manhãs melancólicas de segunda-feira, tomando café na cozinha, eu virei o olhar vagarosamente para a Michelle e comentei a inutilidade do nome "tampa abre-fecha". Ela, enquanto segurava um secador de cabelos com uma mão e comia uma fatia de pão com a outra, olhou no fundo dos meus olhos e pediu para eu não esquecer de pagar o condomínio.

Voltei meu olhar para aquela doce embalagem de suco de laranja, minha única amiga. Por que escrever "tampa abre-fecha", se toda tampa abra e fecha? Por que não escrever somente "tampa"? Por que não escrever nada?

Ao longo do dia, eu fui melhorando. Mas esqueci de pagar a conta.


6.7.04

HALL DA FAMA DOS FAST-FOODS

Em primeiro lugar, reinam as Curly Fries do finado Arby?s. Para quem não se lembra, são aquelas batatas fritas recompostas em espiral, com um leve e sedutor toque de pimenta. Algo como se a Ana Paula Arósio estivesse nua, na sua frente, coberta apenas por seus cachos. Não tê-las (ambas), me obriga a fazer, toda terça-feira às 16 horas, um minuto de silêncio.

O gosto amargo da prata é amenizado pela doce invenção do Roberto, dono da rede de lanchonetes carioca Bob?s. O milkshake de Ovomaltine é tão sensacional que não deveria faltar a nenhum homem diante de uma crise de TPM de sua namorada ou esposa. Usado de modo apropriado, esse item tem o poder de torná-las dóceis e prontas para agradecer a gentileza com horas e horas de sexo selvagem.

No terceiro degrau desta lista, figuram as Onion Rings do America. Em bom português, os anéis de cebola, sequinhos e sem tanta massa, são servidos na quantidade certa para forrar seu estômago. Fora que eles estão envoltos por uma magia que, ao mastigá-los, nos dá um campo de força por causa do hálito.

Já fora do pódio, mas merecendo uma menção de honra: o capuccino da Kopenhagen. Antes acessível a poucos e bons, a rede (multiplicou e) abriu suas portas à classe média sedenta por pequenos luxos. O segredo, um tanto óbvio, desta bebida é que o chocolate usado na receita é da própria marca.

Se você acha que está faltando algum item essencial à lista, utilize o campo de comentários abaixo.

2.7.04

CALCULADORA CIENTÍFICA

Eu sempre achei um porre esses engenheiros que mantém suas calculadoras científicas HP da época da faculdade até hoje. Mas não vou mentir (no máximo ocultar alguns fatos): eu também tenho uma. E não sou engenheiro.

A história de como eu ganhei esta calculadora começa em 1994. Cursava o 3º ano do colegial (atual ensino médio, mas pra mim sempre será colegial). Quase toda minha classe tinha ganho bolsa 100% no Cursinho Objetivo. Menos eu. Lá por setembro/outubro, o Objetivo fazia um puta simuladão. E para dar um estímulo a mais, rolavam uns prêmios: computadores pros top 3, CD-ROMs pros top 10 e calculadoras científicas pros top 50. Minha classe inteira ia. Menos eu.

Quando saiu o resultado do simulado, surpresa: entre os 50 primeiros colocados, mais de 15 eram amigos meus. Rolou a maior caravana até a Gazeta para o evento de entrega dos prêmios.

Chegando lá, não tinha nem trinta pessoas no auditório, contando a gente. Começaram a chamar pelos top 3. O primeiro era um japa genérico, sem amigos. O segundo era da nossa turma. É novas (expressão da época) que a gente fez a maior algazarra (expressão da época dos nossos avós). Chamaram o terceiro colocado... e nada do viado aparecer. Do 4º ao 10º, a maioria não estava lá. Os poucos que iam receber não precisavam mostrar documento nem nada. Minha mente suja já arquitetava uma falsidade ideológica básica em troca de uma utilíssima calculadora científica.

Eu não queria chamar muita atenção. Então resolvi que eu seria premiado entre o 35º e o 40º. Não contei pra ninguém meu plano. Queria criar impacto. Minhas mão suavam frio. Minhas axilas suavam quente. E o mestre-de-cerimônia só chamava Marcelas, Éricas e Robertas. Com a cabeça entre as pernas, eu olhava meus pés rezando pra sair um cara. Quando chegamos ao 43º, ela anunciou: Rodrigo de tal. Era agora. Levantei a cabeça com um sorriso nervoso e... não é que o filha-da-puta do Rodrigo verdadeiro estava lá. Eu fiquei branco, amarelo, azul, meus ouvidos começaram a zumbir. Eu desabei nas costas da cadeira. Mas ninguém tinha percebido nada.

Respirei fundo. Será que valeria a pena tudo aquilo? 47º colocado: ele fala o nome de um outro Rodrigo. Silêncio. Me enchi de coragem e, em menos de 1 segundo, me levantei. Metade da turma não entendeu nada. A outra metade fez igual àquelas formaturas de filme de High School em que um cara começa a aplaudir devagar aí a galera vai encorpando e no final todos estão de pé, pulando e gritando em uníssono o (novo) nome do personagem principal/patinho feio.

O mestre-de-cerimônia, estranhando que eu fosse mais festejado do que o 1º colocado, me cumprimentou com um pé atrás, uma mão de aperto firme e a caixinha da calculadora na outra. Voltei para meu lugar quase às lágrimas. Como diria o Pelé: era muita emoção. Abri o pacote e... a calculadora não era uma HP. Nem Casio. Era uma Dismac. Eu tinha feito tudo aquilo por um acalculadora DISMAC!

Pelo resto daquele ano eu fui chamado de Rodrigo em diversas oportunidades. E a calculadora científica foi usada, se muito, umas cinco vezes. Todas para estudar Português, mais especificamente a gramática invertida das palavras BELOS SEIOS, GOLE etc.

1.7.04

PERGUNTAS

Ok, junho acabou. E digamos que este mês tenha sido sabático para o blog. Para não criar expectativas sobre minha produtividade postativa, voltarei apenas editando um texto feito pela minha coisinha linda do coração.

Eu sempre soube que meu cérebro não funcionava bem de manhã, que ele demora pra esquentar, que tem que pegar no tranco etc, mas não achava que fosse assim:

Despertando, na cama:
- Acorda, Preto.
- Acorda por quê?
- Porque tá na hora!
- Na hora de quê?
- De levantar e tomar banho.
- Banho de quê?
- De sol!
- Que sol?
- O sol que está brilhando.
- Onde?
- Lá fora dessa janela que você não quer instalar a persiana.
- Calma, Pretinha, por que você está nervosa?
- Porque você fica fazendo um monte de pergunta boba.
- Que pergunta?
- Tipo essa.
- Qual?
- Ah, Flá, tá bom! EU vou levantar.

Juntos, no chuveiro:
- Vamos, Flá, que a gente tá atrasado.
- Atrasado pra quê?
- Pro trabalho?
- Qual trabalho?
- O meu e o seu.
- Qual é o meu e qual é o seu?
- Ah, Flá, dá licença, que eu quero sair.
- Sair de onde?
- Do chuveiro.
- "Pobrema" seu.

No elevador:
- Preto, promete que você vai parar de me azucrinar com essas
perguntas idiotas.
(Silêncio)
- Que perguntas?

25.5.04

BCP: TDMA -> GSM, OK. PQP!

Acabei de ficar sabendo que eu poderia ter trocado meu celular ex-BCP (atual Claro TDMA) por um aparelho de tecnologia GSM, MANTENDO o mesmo número (pra não ter o trampo de avisar todo mundo que mudou etc e tal).

Mas o espertão aqui trocou por outro TDMA, uma tecnologia praticamente enterrada para o futuro das telecomunicações. E ainda por cima, eu sou obrigado por contrato a ficar 12 meses com esse aparelho.

Fiquei me martirizando por ter feito um mau negócio. Porém, fui lembrado que esse mau negócio movimentou a vultosa quantia de 99 reais.

Me senti um pouco melhor.

10.5.04

VIZINHOS

Eu sou do tempo em que vizinho só ligava pra pedir pra baixar o som durante as festas. No apê ao lado, mora um casal bem esquisitão. Ele é baixinho e magrelo, ela é meio gigante.Ela não tem cara de quem vem pedir pó de café ou açúcar emprestado. Ele tem cara de frutinha. Mas o conjunto funciona.

Outro dia toca o interfone, tarde da noite. Era a vizinha, pedindo um disquete virgem. Eu já desconfiava que ela tivesse algum tipo de perversão. Mas, no final das contas, era só pra becapar a declaração de imposto de renda.

Aliás, são os mesmos vizinhos que racharam com a gente (o custo de) uma parede com isolamento acústico. Afinal, o "maridão" é pianista, domingueiro, mas pianista. A Mi disse que ele toca bem, apesar do isolamento acústico.

Uma semana depois que a parede foi colocada, eu entrei no elevador e lá estava a vizinha. Ela disse que o isolamento funcionava que era uma beleza. Eu apenas sorri. Ela se empolgou e disse que já era tempo, porque antes dessa parede, eles conseguiam ouvir até quando os antigos moradores do nosso apê "estavam, você sabe, transando..." Eu novamente sorri, mas de medo. Eu já disse isso, mas vale ressaltar que a mulher é gigante. Estava uma tensão desgraçada naquele elevador. Então ela levanta a mão e, graças a Deus, era só pra abrir a porta e sair no térreo.

22.4.04

WWW.COISO.COM

Sim, existe. Meus planos de conquistar o mundo através de um domínio ponto.com já eram. Ou vou ter que desembolsar uma grana para desalojar esses idiotas.



Algumas pérolas:

"Everyone wants to be a part of COISO!!!"

"COISO is also the umbrella organization..."

Tem até uma foto que parece que foi tirada num daqueles últimos dias de aulas no Colégio Bandeirantes:



Da esquerda para a direita: Gô (de camisa verde), Sérgio, Leonardo, Min, Cherico (pulando), Guy e, na frente, esse bando de mina japa/china/corea típico de primeira classe do Band.


1.4.04

O SONHO DE CONSUMO DOS COMUNISTAS

A mim me pareceu deveras estranho o banner veiculado pelo Portal Vermelho para divulgar que é finalista do Prêmio iBest. Este portal, vinculado ao Partido Comunista do Brasil, vulgo PCdoB, estimula seus visitantes a participar da votação, com a sedutora oferta de concorrer a uma Montana, a nova picape da GM.

O banner já saiu do ar, mas ainda dá pra conferir aqui

26.3.04

MACHADÃO POSTANDO FORTE

Nunca fui um nerd da literatura. Mas estou relendo Dom Casmurro. Para quem quiser me acompanhar, visite este blog, que está no ar desde segunda-feira, com um capítulo novo por dia. Há comentários, você tem livre arbítrio sobre lê-los ou não.

24.3.04

CARA-DE-PAU

Histórias de elevador sempre encantam moradores de condomínios. O convívio não voluntário em um ambiente bastante fechado entre pessoas que não têm a menor intimidade é motivo para diversos causos. Protagonizei um desses ontem à noite.

Sabe quando você chega em casa tarde pra caralho, depois de um dia de trabalho dos infernos, louco pra cair na cama e dormir de roupa? Então, eu nem tinha estacionado o carro direito, já desliguei a chave e sai correndo para pegar carona no elevador da garagem. Um jovem senhor de 40 anos segurava a porta para o "moço não perder a viagem". Agradeci, do fundo do coração, a gentileza e entrei no cubículo.

O jovem senhor barrigudinho estava acompanhado de uma jovem senhora barrigudinha, tipo daquelas morenas que se tornam loiras (porrrque o Antonio Carrrlos gosta mais assim) e uma filhinha barrigudinha, de uns 4~5 anos, cara enfezada (de fezes, mesmo). Me espremi num canto do elevador, deixando a família de gordinhos mais à vontade. A pequerrucha folheava uma revistinha de quadrinhos:
- Olha, papai, tem um CD!
- Puxa, filhota, dá pra ouvir música!
- Que legal - emendou a mamãe.

Diante de tanta felicidade da família gordinha, até arrisquei um sorriso para a pequerrucha. Quando ela notou minha tentava de abertura, de aproximação, franziu a testa até esconder os olhos e soltou:
- Não tem graça nenhuma! Tá rindo do quê?

Congelado, apenas movi os olhos para a mamãe gordinha, que, percebendo a saia justa, lasseou uma desculpa:
- Ah, que vergonha, não sei onde ela aprendeu isso. Agora ela fala isso para todo mundo...
- Não, tudo bem.
- Ainda que ela não te chamou de cara-de-pau - emendou o papai.

Nisso, o elevador pára no térreo e entra um rapaz de mochila, tipo chegando da faculdade. Eu me espremo mais ainda para ele se acomodar. Quando o elevador começa a andar, o rapaz passa a mão na cabeça da menina. Eu apenas fechei os olhos, mas ouvi o grito dela do mesmo jeito:
- CARA-DE-PAU!

17.3.04

1984 - A Revolução Celular

Esse ano representa muito para muitos. Independente de George Orwell, das Olimpíadas de Los Angeles ou do lançamento do Macintosh, 1984 mudou minha vida para sempre.

Eu estava no pré-primário. Cartilha Pipoca. Tia Esméia. Corria o mês de abril. Era a vez da letra L e da tabuada do 7. Tenho deficiência nesses dois itens básicos até hoje por ter faltado uma semana às aulas do Externato "Ofélia Fonseca".

Tudo começou quando meia-dúzia de anticorpos se empolgaram com um gene que não tinha mais nada o que fazer e ficou dando idéia de ir lá no pâncreas zoar com as células Beta. Despretensiosamente chegando às ilhotas de Langerhans, deu-se uma luta sangrenta que dizimou as coitadas células que produziam insulina.

Resultado: os anticorpos queriam tomar uma para comemorar, mas não foram muito bem recebidos em nenhum boteco do corpo humano. Linchados sumariamente pela grande maioria da população celular, de todas as classes e raças, indignada por causa da nação de moléculas de glicose que passou a vagar pela corrente sangüíneas como uma legião de sem-teto.

Sem insulina, todas as portas se fechavam para as glicoses. Desempregadas, acabavam recorrendo aos órgãos de atendimento público do corpo humano, conturbando o fluxo de trabalho principalmente nos rins e periféricos. Para dar vazão à burocracia nefrática, estava sendo requisitada mais e mais água potável que diluísse a concentração das massas calóricas.

Uma falha de comunicação interna fez os neurônios entenderem a necessidade de água como uma simples sede. Para acabar com ela, litros e litros de suco de laranja inundavam o organismo, trazendo ainda mais glicose para a corrente sangüínea. Onde deveria haver 100 glicoses, havia 2.480. Pronto-socorro.

Depois de uma semana no hospital, a vida se tornou um pouco mais amarga para um moleque que nem gostava tanto de comer doces.

15.3.04

MELHORES MÚSICAS DO MUNDO (nesta tarde)

Maldito verano - LOS PIRATA
I believe in a thing called love - DARKNESS
Vencedor - LOS HERMANOS
Megalomania - AUTORAMAS

Acho que nunca falei dos Autoramas neste blog. Vou me redimir agora. Desde os tempos de Little Quail, eu sabia que o vocalista Gabriel Thomaz ia dar trabalho. É difícil encontrar personalidades rock'n roll no rock'n roll nacional. Não falo de piadas como Pitty (Avril Lavigne da Bahia) ou CPM 22 (Banda Gospel que não fala de Jesus). Criatividade musical, ironia, presença de palco, fico feliz em preceber que ainda existe "atitude" no rock nacional.

Já que eu fui por esses lados, também preciso citar Los Pirata. Apesar de nunca ter ido a nenhum show deles, já os coloco em um patamar de destaque no cenário da música poptrash nacional (? - eles cantam em espanhol). O disco tem apenas meia hora, ainda assim porque tem uma jam de onze minutos no final, mas ? um ant?doto de for?a (Que a força esteja cm você) para quem precisa de algo mais para sobreviver na Matrix.

Bom, Los Hermanos já foram assunto do post anterior, mas eu acabei não falando quase nada (positivo) sobre eles. Acho que boa parte da classe média universitária já teve a chance de ouvir o último CD deles e chegar à conclusão que eles não merecem o preconceito Anajúlico imposto pela haute culture/crítica/inteligenzia paulistana. Destaco o lirismo e atitude antipop do líder Marcelo Camelo e riffs sensacionais do guitarrista Rodrigo Amarante.

Darkness. Bem, acho que é a coisa mais divertida que aconteceu no rock dos últimos tempos. Algo como se o Ney Matogrosso ou o Edson Cordeiro se juntassem ao AC/DC para formar um novo Poison. É admirável que um ser humano inicie uma música cantando em falsete, falando sobre amor, tipo um Rivers Cuomo que não se leva a sério.

8.3.04

LOS HERMANOS

Fui ao show deles, sábado, no Palace. (Não tem jeito, nunca vou chamar aquela birosca de Directv Music Hall.) A apresentação foi legal. Teve até abertura de uma banda, banda mesmo, tocando marchinhas de carnaval para animar a galera.

Antes, eu e a Mi fomos para um "esquenta tamborins" na casa da Gica e do Rogerião. Iríamos de turminha, já que ainda teríamos a presença da Mabi (Maria Beatriz, amiga do Rogério) e reishpectivo namorado carioca-farroupilha.

A gente acabou saindo em cima da hora e, como a pista estava lotada, ficamos meio longe, logo na entrada. Só que o mais legal NÃO estava no palco. Um senhor de uns 55~60 anos, que chegou de mansinho e ficou do nosso lado quase que o show inteiro. Na verdade, ao lado da irmã da Mabi, que encontrou a gente lá dentro. De vez em quando, ele até dava uns güento na irmã da Mabi. Mas tudo no maior respeito.

Solos, gritos, aplausos, bis, mais aplausos, as luzes se acendem. E não é que o velhote era o Suplicy. Sim, ele mesmo: o senador, o ex-marido, o pai do Supla, o mito, o último homem de caráter em Brasília, o último homem de blazer em um show de rock.

Boiadas são sempre bem-vindas. Quando um senador da república sugere que a turma vá visitar o camarim, enfie os dois pés na jaca. No caminho, o jovem Eduardo cumprimentou, como se fossem da banda, 2 caras do staff, só por também usarem barba comprida. Me segurei para não fazer nenhum comentário. Afinal, sem ele, não estaríamos ali.

Falamos com os Hermanos, todos supergenteboa, mas não tinha nada de rango ou goró pra quem invadisse o camarim. Quando estava começando a lotar, eu dei o toque pro Suplão pra gente se pirulitar.

Os 3 casais ainda iríamos para uma festa na casa de um amigo nosso, ex-colega de firrrma da Michelle e da Gica. Detalhe: a aniversariante é gay e metade dos convidados também. Cordial e politicamente correto, como sempre, o senador recusou o convite (sem saber do detalhe).

Chegando lá fora, estava uma chuvinha. Cordial e politicamente correto, como sempre, ele perguntou se estávamos "de automóvel", pois ele teria o prazer de nos dar uma carona para que não pegássemos um resfriado. Cordial e politicamente correto, como nunca, recusei o convite.

3.3.04

A MONSTRA DA MÁQUINA DE CAFÉ

Onde se ganha o pão, não se come a carne. Seguir esse ditado aqui na firrrma não é muito difícil. Disk tem uma lenda que, quando nasce uma criança, Deus pergunta "Quer ser bonita ou trabalhar naquela firrrma?". Esse post é sobre uma criatura que escolheu muito a segunda opção.

Normalmente trabalhar me dá sono. Especialmente naqueles feriados em que você é escalado para fazer plantão. Pra completar, naquela tarde estava fazendo um calor dos infernos. Além de sono, trabalhar me dava sede. Então, fui fazer o refil da minha garrafinha de água no complexo social bebedouro/máquina de café/fumódromo.

Parênteses: no meu andar funciona o telemarketing de publicidade, um produtivo celeiro de tiazinhas que primam pela beleza e forma física, pelo bom gosto na escolha de indumentárias e também pela correção gramatical na utilização da linguagem verbal ou escrita. Na minha época de tabagismo corporativo, eu até convivia com algumas delas no fumódromo. No entanto, minha participação nos "diálogos" se limitava a resmungar concordâncias. Putz, do telemarketing inteiro, acho que só uma ou duas se salvavam, mas eram não-fumantes e provavelmente não-pensantes.

Pois então, lá estava eu, com minha garrafinha refil na boca da botija, quando chega uma dessas moças. Até que estou sendo bonzinho na descrição, assim como fui bonzinho ao cumprimentar aquele filhote de cruz-credo gigante que tem uma bunda que é o triplo do tamanho do tronco e que, apesar disso, só veste calças dois números menores que o indicado.

Eu esperava que ela passasse reto em direção ao fumódromo. Mas não. Ela vaio apertar um botão na máquina de café. A tal Lady Murphy devia estar conspirando para que aquele simples intervalo se transformasse num suplício. Eu fechei os olhos, rezando para ela não vir puxar assunto, mas era inevitável:
- Ai, que marasmo, né?

Eu abri os olhos, respirei fundo e levantei as sobrancelhas, concordando com a cabeça:
- É.
A porra do bebedouro devia estar com problema. Justo na hora que eu mais precisava que ele enchesse rápido a garrafinha, a torneira começa a falhar.

E a monstra não se contentava com minha clara demonstração que não estava a fim de papo. Encostou na máquina requebrando aquela bunda estratosférica de um modo que bloqueava totalmente a passagem do corredor. Com um braço inteiro levantado, como que acariciando a máquina de café, ela colocou a outra mão na "cintura", numa pose lânguida, sensual, de ataque:
- Bem que podia acontecer alguma coisa pra animar essa tarde, né?

Socorro! Antes que aquela monstra me agarrasse, fechei a garrafinha e, saída pela direita, sem olhar pra trás. Graças ao meu bom deus, nunca mais encontrei essa senhora.

27.2.04

APARELHO DIGESTÓRIO, COMPLEXO GOLGIENSE E TONSILA

O título acima pode parecer fruto daqueles tradutores automáticos que a gente encontra na internet. Mas não é. Esses são alguns exemplos da nova nomenclatura oficial utilizada nas descrições sobre anatomia humana, veterinária, aviária, citológica, histológica e embriológica.

O Ministério da Educação determinou que os livros didáticos adotados no ensino fundamental e médio devam seguir a terminologia científica, a Nomina anatomica. É difícil engolir essa história, principalmente quando suas amídalas viram tonsilas, ou papo vira onglúvio. Confira a lista inteira na página da estimada professora Cynara.

Já me imagino, velhinho, vendo aqueles programas da Discovery/Animal Planet sobre o sistema digestório do avestruz, e reclamando que o texto foi escrito por algum professorzinho de biologia de vinte e poucos anos.

Queria eu que a discussão sobre o que está certo ou errado nessa vida se limitasse a normas de nomenclatura.

16.2.04

LOOMPA-LOOMPA & NATAL NA PENITENCIÁRIA

O post está meio atrasado (para quem conhece o dono deste blog, nenhuma novidade), mas vale a pena lê-lo.

Valparaíso é uma diminuta cidade no noroeste paulista, entre Araçatuba e Andradina. Sua economia é movida a álcool (inserir gif animado da mãozinha - trocadilho.gif), mas nos últimos anos a construção de um presídio estadual deu uma chacoalhada no município. Mas não é sobre isso que eu vim falar.

Anualmente ocorre em Valparaíso uma tradicional temporada de festividades, o Natal. A família do meu pai, principalmente do lado Sanches, promove animados jantares e almoços, que nos áureos tempos reuniam mais de 50 pessoas. Mas também não é sobre isso que eu vim falar.

O lance é que o último Natal foi bem curioso. Eu (cético), Michelle (quase budista), Márcio (judeu), Paula (quase judia) e Claudio Niwcles (católico caseiro) fomos celebrar o nascimento de Cristo na casa de minha avó Sabina (católica praticante). Dia 24/12, saímos às 5 da manhã para uma viagem de 500 km, com direito a multa por excesso de velocidade e sono por excesso de monólogos do Professor Claudio.

Chegamos em Valpa para o almoço, invariavelmente bife à parmegiana, estreamos a piscina que meu Tio Tininho acabara de construir. Pretérito mais que perfeito rules. O jantar de Natal seria na casa da minha avó, com a presença da outra tia (Ana) e seus filhos, Fernando e Carla, que, obviamente, são meus primos.

Fernando, 27 anos, bacharel em direito e fazendeiro, é o solteiro mais disputado da região. Os empresários da noite valparaisense disputam a tapas a simpatia dele para qualquer evento. Nessas, ele nos apresentou a possibilidade de ir a uma Festa de Natal no Clube dos Funcionários da Penitenciária. O ceticismo foi inevitável:

- Porra, Fer, você recomenda essa parada?

- Nico, é a ÚNICA balada que rola hoje em Valpa City.

Bom, então estava decidido. Depois da ceia de Natal, estávamos condenados a ir pra prisão. Em regime semi-aberto. E seria isso mesmo, não fosse a brilhante idéia de passar na casa do sogro do tio Tininho, Sr. Nelson, "o fino da elegância", segundo o Fer.

Vai daí que o Sr. Nelson comprou um videokê, mas como a família dele não carrega genes próprios para a cantoria, ele convidou para a ceia de Natal uns agregados. O mais tradicional de todos é o Taketoshi, um japa (não me diga?!) dono da farmácia, solteirão.

Vai daí que o Sr. Nelson sempre convida uns agregados solitários para festas tipicamente familiares. O mais tradicional de todos é o Taketoshi, um japa (não me diga?!) dono da farmácia, cinquentão, solteirão, porém baixinho.

Mas a "grande" novidade na Ceia dos Marega era Rodenilson, um jovem limítrofe, semi-anão, estrábico, gordinho, vinte e poucos anos, mas portador de maravilhosos genes para afinação das cordas vocais, usados para o mal. O Sr. Nelson colocou um videoké bem no meio do páteo e só dava o Loompa-loompa no microfone. Ele cantava apenas músicas sertanejas, e dentro do item sertanejas, só as mais de corno. Conseguiu notas excelentes por parte do aparelho de videokê e bocejos por parte dos convidados.

Já era quase uma e meia da manhã quando alguém teve a genial idéia de ir pra porra da festa na penitenciária. Chegando ao local, fomos revistados minuciosamente por uma equipe de seguranças do FBI. A technera rolando solta e ecoando junto com um show de luzes vindas do salão, que segundo o Fer teria capacidade "pra umas mil pessoas". Logo imaginei uma fuga de presos, a interação deles com as patricinhas-country, pessoas dançando alucinadas com bolas de ferro no pé.

Subimos uma ornamental escada e finalmente chegamos ao salão principal do clube. Realmente enorme para as... CINCO pessoas já presentes, todas da organização do evento. O prejuízo latente impedia que aqueles cinco destemidos idiotas conseguisse ao menos sorrir com a nossa presença.

Não havia a mínima possibilidade de dançar naquele lugar sem estar um pouco mais alcoolizado. E foi no bar que eu percebi o motivo do não-sorriso dos agroplaybas. Incontáveis caixas de cerveja tomavam conta de uma parede inteira atrás do balcão do "bar". Bebi. Bebi. Bebi mais um pouco tentando ajudar os caras a não terem tanto prejuízo. Era deprimente.

Sentamos naquelas mesas de boteco, de plástico branco, enquanto ouvíamos o som do DJ ecoar pela cidade. Não preciso dizer que a gente não ficou mais de meia hora na "festa". Mas teveum fato que contribuiu violentamente para que a decisão da nossa arrevoada fosse antecipada.

Quando estávamos sentados na mesinha, chegaram umas cinco moças. Educadamente, elas cumprimentaram todos os presentes, conhecidos ou não. Mas o excesso de extroversão das meninas causou um certa irritação na ala feminina do nosso grupo. Só porque elas chegavam desejando um Feliz Natal e muita paz no coração da gente e, nessa hora, elas passavam a mão no peito de nós, rapazes. Namoradas e irmãs fuzilaram as coitadinhas instantaneamente.

O peito dos perus de Natal virou galeto e voltamos pra Lapônia como renas adestradas.

11.2.04

NUNTOIM TENDENNNDO

Colocar uma página no ar é uma das coisas mais simples do mundo para quem tem acesso à internet. Que essa página tenha sentido, já é outra história. Meu amigo Rednuht coletou alguns links interessantes e montou uma enquete para ver qual era o site mais sem propósito do mundo. Recomendo uma visita a todos.

www.pudim.com.br
www.zombo.com
www.wtfomg.com
www.something.com
www.bitchmakemeasandwich.com
www.yourethemannowdog.com

4.2.04

EDUCADAMENTE, UMA CADELA

Vizinhos possuidores de seres caninos carentes (para ser polido na caracterização) merecem um post à parte.
Minha vizinha de cima viaja durante quase todos os finais de semana, deixando sozinho seu cachorro que passa a latir ininterruptamente. Ele acabou se tornando praticamente o Che Guevara dos mundo dos cães. A partir do latido dele, todos os cães do bairro disparam a latir, cantar, declamar poemas e músicas de protesto.

Mas o revolucionário de quatro patas teve seu dia de cão quando eu o vi pessoalmente e descobri seu verdadeiro nome. Era uma manhã chuvosa de domingo, eu entro no elevador e me deparo com a dupla, cadela e cão. Educadamente, eu os cumprimento. A cadela aproveita a abertura pra puxar papo:
- Oi, você mora aqui no 121, né? O Kevin não incomoda MUITO, né?

Educadamente, eu não respondo. Apenas sorrio, pensativo. Então seu nome é "Kevin"... Isso poderia me remeter a vários Kevins: o Arnold de Anos Incríveis, o Bacon de Footloose, o Spacey dos Suspeitos. Mas não, a única imagem que me veio à mente era do Macauley Calkin, esquecido pela família, mas não por mim, nem pela mídia, graças à sua amizade com um famoso suspeito de pederastia.

Uma mistura de Michael Jackson e Guarda Belo tomou conta de mim e eu comecei a bater meu Guarda-chuva Cacetete Empalator Tabajara na outra mão. Silenciosamente, cadela e cão deslizaram pela parede, rumo ao canto oposto do elevador. Ao chegar no térreo, inexplicavelmente, eles sairam sem se despedir.

28.1.04

Palíndromos


PALÍNDROMOS

Eu sou um entusiasta dos palíndromos, aquelas palavras ou frases que se lidas de trás pra frente continuam iguais.

Nomes
Ana
Ada
Oto
Mussum*
Renner

Palavras
Radar
Osso
Ovo
Mirim
Reviver*

Expressões
A torre da derrota
Luz azul
Ódio do doido
O casaco
O dedo
O céu sueco
Tucano na CUT*
A torre da derrota.
Só tapas e sapatos
Rir, o breve verbo rir
Laço bacana para panaca boçal

Frases
Roma é amor.
O mito é ótimo.
A grama é amarga.
Eva, asse essa ave.
A mala nada na lama.
A base do teto desaba.
Saíram o tio e oito Marias.
Anotaram a data da maratona.
Morram, após a sopa marrom!*
I was stressed, desserts saw I.
Olé! Maracujá, caju, caramelo
A Rita, sobre vovô, verbos atira.
A droga do dote é todo da gorda.
Zé de Lima: Rua Laura, mil e dez.
O caso da droga da gorda do saco.
Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.
Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces.
Acinte animal: aos sopapos, soa lâmina étnica
Me vê se a panela da moça é de aço, Madalena Paes, e vem!
O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro.
Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na moda da Romana: anil é cor azul.


Tente construir seus próprios palíndromos neste site.

14.1.04

ALMOÇO COM AS ESTRELAS

Só deixei o título aí pra ficar mais fácil de não esquecer o esquema da história. É sobre jornalistas, política e falta de peito pra falar a verdade. Depois eu desenvolvo.