24.3.04

CARA-DE-PAU

Histórias de elevador sempre encantam moradores de condomínios. O convívio não voluntário em um ambiente bastante fechado entre pessoas que não têm a menor intimidade é motivo para diversos causos. Protagonizei um desses ontem à noite.

Sabe quando você chega em casa tarde pra caralho, depois de um dia de trabalho dos infernos, louco pra cair na cama e dormir de roupa? Então, eu nem tinha estacionado o carro direito, já desliguei a chave e sai correndo para pegar carona no elevador da garagem. Um jovem senhor de 40 anos segurava a porta para o "moço não perder a viagem". Agradeci, do fundo do coração, a gentileza e entrei no cubículo.

O jovem senhor barrigudinho estava acompanhado de uma jovem senhora barrigudinha, tipo daquelas morenas que se tornam loiras (porrrque o Antonio Carrrlos gosta mais assim) e uma filhinha barrigudinha, de uns 4~5 anos, cara enfezada (de fezes, mesmo). Me espremi num canto do elevador, deixando a família de gordinhos mais à vontade. A pequerrucha folheava uma revistinha de quadrinhos:
- Olha, papai, tem um CD!
- Puxa, filhota, dá pra ouvir música!
- Que legal - emendou a mamãe.

Diante de tanta felicidade da família gordinha, até arrisquei um sorriso para a pequerrucha. Quando ela notou minha tentava de abertura, de aproximação, franziu a testa até esconder os olhos e soltou:
- Não tem graça nenhuma! Tá rindo do quê?

Congelado, apenas movi os olhos para a mamãe gordinha, que, percebendo a saia justa, lasseou uma desculpa:
- Ah, que vergonha, não sei onde ela aprendeu isso. Agora ela fala isso para todo mundo...
- Não, tudo bem.
- Ainda que ela não te chamou de cara-de-pau - emendou o papai.

Nisso, o elevador pára no térreo e entra um rapaz de mochila, tipo chegando da faculdade. Eu me espremo mais ainda para ele se acomodar. Quando o elevador começa a andar, o rapaz passa a mão na cabeça da menina. Eu apenas fechei os olhos, mas ouvi o grito dela do mesmo jeito:
- CARA-DE-PAU!

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