21.7.04

TAMPA ABRE-FECHA

Eu sou um daqueles consumidores do tipo bicho-besta, que lê rótulo, fica analisando embalagem, sempre faz perguntas que os vendedores/promotores não sabem responder... e que, no final, não compra nada.

Numa dessas manhãs melancólicas de segunda-feira, tomando café na cozinha, eu virei o olhar vagarosamente para a Michelle e comentei a inutilidade do nome "tampa abre-fecha". Ela, enquanto segurava um secador de cabelos com uma mão e comia uma fatia de pão com a outra, olhou no fundo dos meus olhos e pediu para eu não esquecer de pagar o condomínio.

Voltei meu olhar para aquela doce embalagem de suco de laranja, minha única amiga. Por que escrever "tampa abre-fecha", se toda tampa abra e fecha? Por que não escrever somente "tampa"? Por que não escrever nada?

Ao longo do dia, eu fui melhorando. Mas esqueci de pagar a conta.


6.7.04

HALL DA FAMA DOS FAST-FOODS

Em primeiro lugar, reinam as Curly Fries do finado Arby?s. Para quem não se lembra, são aquelas batatas fritas recompostas em espiral, com um leve e sedutor toque de pimenta. Algo como se a Ana Paula Arósio estivesse nua, na sua frente, coberta apenas por seus cachos. Não tê-las (ambas), me obriga a fazer, toda terça-feira às 16 horas, um minuto de silêncio.

O gosto amargo da prata é amenizado pela doce invenção do Roberto, dono da rede de lanchonetes carioca Bob?s. O milkshake de Ovomaltine é tão sensacional que não deveria faltar a nenhum homem diante de uma crise de TPM de sua namorada ou esposa. Usado de modo apropriado, esse item tem o poder de torná-las dóceis e prontas para agradecer a gentileza com horas e horas de sexo selvagem.

No terceiro degrau desta lista, figuram as Onion Rings do America. Em bom português, os anéis de cebola, sequinhos e sem tanta massa, são servidos na quantidade certa para forrar seu estômago. Fora que eles estão envoltos por uma magia que, ao mastigá-los, nos dá um campo de força por causa do hálito.

Já fora do pódio, mas merecendo uma menção de honra: o capuccino da Kopenhagen. Antes acessível a poucos e bons, a rede (multiplicou e) abriu suas portas à classe média sedenta por pequenos luxos. O segredo, um tanto óbvio, desta bebida é que o chocolate usado na receita é da própria marca.

Se você acha que está faltando algum item essencial à lista, utilize o campo de comentários abaixo.

2.7.04

CALCULADORA CIENTÍFICA

Eu sempre achei um porre esses engenheiros que mantém suas calculadoras científicas HP da época da faculdade até hoje. Mas não vou mentir (no máximo ocultar alguns fatos): eu também tenho uma. E não sou engenheiro.

A história de como eu ganhei esta calculadora começa em 1994. Cursava o 3º ano do colegial (atual ensino médio, mas pra mim sempre será colegial). Quase toda minha classe tinha ganho bolsa 100% no Cursinho Objetivo. Menos eu. Lá por setembro/outubro, o Objetivo fazia um puta simuladão. E para dar um estímulo a mais, rolavam uns prêmios: computadores pros top 3, CD-ROMs pros top 10 e calculadoras científicas pros top 50. Minha classe inteira ia. Menos eu.

Quando saiu o resultado do simulado, surpresa: entre os 50 primeiros colocados, mais de 15 eram amigos meus. Rolou a maior caravana até a Gazeta para o evento de entrega dos prêmios.

Chegando lá, não tinha nem trinta pessoas no auditório, contando a gente. Começaram a chamar pelos top 3. O primeiro era um japa genérico, sem amigos. O segundo era da nossa turma. É novas (expressão da época) que a gente fez a maior algazarra (expressão da época dos nossos avós). Chamaram o terceiro colocado... e nada do viado aparecer. Do 4º ao 10º, a maioria não estava lá. Os poucos que iam receber não precisavam mostrar documento nem nada. Minha mente suja já arquitetava uma falsidade ideológica básica em troca de uma utilíssima calculadora científica.

Eu não queria chamar muita atenção. Então resolvi que eu seria premiado entre o 35º e o 40º. Não contei pra ninguém meu plano. Queria criar impacto. Minhas mão suavam frio. Minhas axilas suavam quente. E o mestre-de-cerimônia só chamava Marcelas, Éricas e Robertas. Com a cabeça entre as pernas, eu olhava meus pés rezando pra sair um cara. Quando chegamos ao 43º, ela anunciou: Rodrigo de tal. Era agora. Levantei a cabeça com um sorriso nervoso e... não é que o filha-da-puta do Rodrigo verdadeiro estava lá. Eu fiquei branco, amarelo, azul, meus ouvidos começaram a zumbir. Eu desabei nas costas da cadeira. Mas ninguém tinha percebido nada.

Respirei fundo. Será que valeria a pena tudo aquilo? 47º colocado: ele fala o nome de um outro Rodrigo. Silêncio. Me enchi de coragem e, em menos de 1 segundo, me levantei. Metade da turma não entendeu nada. A outra metade fez igual àquelas formaturas de filme de High School em que um cara começa a aplaudir devagar aí a galera vai encorpando e no final todos estão de pé, pulando e gritando em uníssono o (novo) nome do personagem principal/patinho feio.

O mestre-de-cerimônia, estranhando que eu fosse mais festejado do que o 1º colocado, me cumprimentou com um pé atrás, uma mão de aperto firme e a caixinha da calculadora na outra. Voltei para meu lugar quase às lágrimas. Como diria o Pelé: era muita emoção. Abri o pacote e... a calculadora não era uma HP. Nem Casio. Era uma Dismac. Eu tinha feito tudo aquilo por um acalculadora DISMAC!

Pelo resto daquele ano eu fui chamado de Rodrigo em diversas oportunidades. E a calculadora científica foi usada, se muito, umas cinco vezes. Todas para estudar Português, mais especificamente a gramática invertida das palavras BELOS SEIOS, GOLE etc.

1.7.04

PERGUNTAS

Ok, junho acabou. E digamos que este mês tenha sido sabático para o blog. Para não criar expectativas sobre minha produtividade postativa, voltarei apenas editando um texto feito pela minha coisinha linda do coração.

Eu sempre soube que meu cérebro não funcionava bem de manhã, que ele demora pra esquentar, que tem que pegar no tranco etc, mas não achava que fosse assim:

Despertando, na cama:
- Acorda, Preto.
- Acorda por quê?
- Porque tá na hora!
- Na hora de quê?
- De levantar e tomar banho.
- Banho de quê?
- De sol!
- Que sol?
- O sol que está brilhando.
- Onde?
- Lá fora dessa janela que você não quer instalar a persiana.
- Calma, Pretinha, por que você está nervosa?
- Porque você fica fazendo um monte de pergunta boba.
- Que pergunta?
- Tipo essa.
- Qual?
- Ah, Flá, tá bom! EU vou levantar.

Juntos, no chuveiro:
- Vamos, Flá, que a gente tá atrasado.
- Atrasado pra quê?
- Pro trabalho?
- Qual trabalho?
- O meu e o seu.
- Qual é o meu e qual é o seu?
- Ah, Flá, dá licença, que eu quero sair.
- Sair de onde?
- Do chuveiro.
- "Pobrema" seu.

No elevador:
- Preto, promete que você vai parar de me azucrinar com essas
perguntas idiotas.
(Silêncio)
- Que perguntas?