16.2.04

LOOMPA-LOOMPA & NATAL NA PENITENCIÁRIA

O post está meio atrasado (para quem conhece o dono deste blog, nenhuma novidade), mas vale a pena lê-lo.

Valparaíso é uma diminuta cidade no noroeste paulista, entre Araçatuba e Andradina. Sua economia é movida a álcool (inserir gif animado da mãozinha - trocadilho.gif), mas nos últimos anos a construção de um presídio estadual deu uma chacoalhada no município. Mas não é sobre isso que eu vim falar.

Anualmente ocorre em Valparaíso uma tradicional temporada de festividades, o Natal. A família do meu pai, principalmente do lado Sanches, promove animados jantares e almoços, que nos áureos tempos reuniam mais de 50 pessoas. Mas também não é sobre isso que eu vim falar.

O lance é que o último Natal foi bem curioso. Eu (cético), Michelle (quase budista), Márcio (judeu), Paula (quase judia) e Claudio Niwcles (católico caseiro) fomos celebrar o nascimento de Cristo na casa de minha avó Sabina (católica praticante). Dia 24/12, saímos às 5 da manhã para uma viagem de 500 km, com direito a multa por excesso de velocidade e sono por excesso de monólogos do Professor Claudio.

Chegamos em Valpa para o almoço, invariavelmente bife à parmegiana, estreamos a piscina que meu Tio Tininho acabara de construir. Pretérito mais que perfeito rules. O jantar de Natal seria na casa da minha avó, com a presença da outra tia (Ana) e seus filhos, Fernando e Carla, que, obviamente, são meus primos.

Fernando, 27 anos, bacharel em direito e fazendeiro, é o solteiro mais disputado da região. Os empresários da noite valparaisense disputam a tapas a simpatia dele para qualquer evento. Nessas, ele nos apresentou a possibilidade de ir a uma Festa de Natal no Clube dos Funcionários da Penitenciária. O ceticismo foi inevitável:

- Porra, Fer, você recomenda essa parada?

- Nico, é a ÚNICA balada que rola hoje em Valpa City.

Bom, então estava decidido. Depois da ceia de Natal, estávamos condenados a ir pra prisão. Em regime semi-aberto. E seria isso mesmo, não fosse a brilhante idéia de passar na casa do sogro do tio Tininho, Sr. Nelson, "o fino da elegância", segundo o Fer.

Vai daí que o Sr. Nelson comprou um videokê, mas como a família dele não carrega genes próprios para a cantoria, ele convidou para a ceia de Natal uns agregados. O mais tradicional de todos é o Taketoshi, um japa (não me diga?!) dono da farmácia, solteirão.

Vai daí que o Sr. Nelson sempre convida uns agregados solitários para festas tipicamente familiares. O mais tradicional de todos é o Taketoshi, um japa (não me diga?!) dono da farmácia, cinquentão, solteirão, porém baixinho.

Mas a "grande" novidade na Ceia dos Marega era Rodenilson, um jovem limítrofe, semi-anão, estrábico, gordinho, vinte e poucos anos, mas portador de maravilhosos genes para afinação das cordas vocais, usados para o mal. O Sr. Nelson colocou um videoké bem no meio do páteo e só dava o Loompa-loompa no microfone. Ele cantava apenas músicas sertanejas, e dentro do item sertanejas, só as mais de corno. Conseguiu notas excelentes por parte do aparelho de videokê e bocejos por parte dos convidados.

Já era quase uma e meia da manhã quando alguém teve a genial idéia de ir pra porra da festa na penitenciária. Chegando ao local, fomos revistados minuciosamente por uma equipe de seguranças do FBI. A technera rolando solta e ecoando junto com um show de luzes vindas do salão, que segundo o Fer teria capacidade "pra umas mil pessoas". Logo imaginei uma fuga de presos, a interação deles com as patricinhas-country, pessoas dançando alucinadas com bolas de ferro no pé.

Subimos uma ornamental escada e finalmente chegamos ao salão principal do clube. Realmente enorme para as... CINCO pessoas já presentes, todas da organização do evento. O prejuízo latente impedia que aqueles cinco destemidos idiotas conseguisse ao menos sorrir com a nossa presença.

Não havia a mínima possibilidade de dançar naquele lugar sem estar um pouco mais alcoolizado. E foi no bar que eu percebi o motivo do não-sorriso dos agroplaybas. Incontáveis caixas de cerveja tomavam conta de uma parede inteira atrás do balcão do "bar". Bebi. Bebi. Bebi mais um pouco tentando ajudar os caras a não terem tanto prejuízo. Era deprimente.

Sentamos naquelas mesas de boteco, de plástico branco, enquanto ouvíamos o som do DJ ecoar pela cidade. Não preciso dizer que a gente não ficou mais de meia hora na "festa". Mas teveum fato que contribuiu violentamente para que a decisão da nossa arrevoada fosse antecipada.

Quando estávamos sentados na mesinha, chegaram umas cinco moças. Educadamente, elas cumprimentaram todos os presentes, conhecidos ou não. Mas o excesso de extroversão das meninas causou um certa irritação na ala feminina do nosso grupo. Só porque elas chegavam desejando um Feliz Natal e muita paz no coração da gente e, nessa hora, elas passavam a mão no peito de nós, rapazes. Namoradas e irmãs fuzilaram as coitadinhas instantaneamente.

O peito dos perus de Natal virou galeto e voltamos pra Lapônia como renas adestradas.

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