2.7.04

CALCULADORA CIENTÍFICA

Eu sempre achei um porre esses engenheiros que mantém suas calculadoras científicas HP da época da faculdade até hoje. Mas não vou mentir (no máximo ocultar alguns fatos): eu também tenho uma. E não sou engenheiro.

A história de como eu ganhei esta calculadora começa em 1994. Cursava o 3º ano do colegial (atual ensino médio, mas pra mim sempre será colegial). Quase toda minha classe tinha ganho bolsa 100% no Cursinho Objetivo. Menos eu. Lá por setembro/outubro, o Objetivo fazia um puta simuladão. E para dar um estímulo a mais, rolavam uns prêmios: computadores pros top 3, CD-ROMs pros top 10 e calculadoras científicas pros top 50. Minha classe inteira ia. Menos eu.

Quando saiu o resultado do simulado, surpresa: entre os 50 primeiros colocados, mais de 15 eram amigos meus. Rolou a maior caravana até a Gazeta para o evento de entrega dos prêmios.

Chegando lá, não tinha nem trinta pessoas no auditório, contando a gente. Começaram a chamar pelos top 3. O primeiro era um japa genérico, sem amigos. O segundo era da nossa turma. É novas (expressão da época) que a gente fez a maior algazarra (expressão da época dos nossos avós). Chamaram o terceiro colocado... e nada do viado aparecer. Do 4º ao 10º, a maioria não estava lá. Os poucos que iam receber não precisavam mostrar documento nem nada. Minha mente suja já arquitetava uma falsidade ideológica básica em troca de uma utilíssima calculadora científica.

Eu não queria chamar muita atenção. Então resolvi que eu seria premiado entre o 35º e o 40º. Não contei pra ninguém meu plano. Queria criar impacto. Minhas mão suavam frio. Minhas axilas suavam quente. E o mestre-de-cerimônia só chamava Marcelas, Éricas e Robertas. Com a cabeça entre as pernas, eu olhava meus pés rezando pra sair um cara. Quando chegamos ao 43º, ela anunciou: Rodrigo de tal. Era agora. Levantei a cabeça com um sorriso nervoso e... não é que o filha-da-puta do Rodrigo verdadeiro estava lá. Eu fiquei branco, amarelo, azul, meus ouvidos começaram a zumbir. Eu desabei nas costas da cadeira. Mas ninguém tinha percebido nada.

Respirei fundo. Será que valeria a pena tudo aquilo? 47º colocado: ele fala o nome de um outro Rodrigo. Silêncio. Me enchi de coragem e, em menos de 1 segundo, me levantei. Metade da turma não entendeu nada. A outra metade fez igual àquelas formaturas de filme de High School em que um cara começa a aplaudir devagar aí a galera vai encorpando e no final todos estão de pé, pulando e gritando em uníssono o (novo) nome do personagem principal/patinho feio.

O mestre-de-cerimônia, estranhando que eu fosse mais festejado do que o 1º colocado, me cumprimentou com um pé atrás, uma mão de aperto firme e a caixinha da calculadora na outra. Voltei para meu lugar quase às lágrimas. Como diria o Pelé: era muita emoção. Abri o pacote e... a calculadora não era uma HP. Nem Casio. Era uma Dismac. Eu tinha feito tudo aquilo por um acalculadora DISMAC!

Pelo resto daquele ano eu fui chamado de Rodrigo em diversas oportunidades. E a calculadora científica foi usada, se muito, umas cinco vezes. Todas para estudar Português, mais especificamente a gramática invertida das palavras BELOS SEIOS, GOLE etc.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala Ricci !!!! Impressionante, mas eu me lembro vagamente dessa lenda da calculadora do Objetivo...

Abraco,
Guy