17.12.04

ANINHA

No último ano da faculdade, toda quinta e sexta minha turma emendava a última aula direto pra night. O Luciano, o cara mais "alegre" da turma, deu a idéia de ir a uma boate GLS que estava fervendo na época. Ok, sem preconceitos, eu me dava bem nesse tipo de balada, afinal a mulherada simpatizante como eu costumava ser mais louquinha, masi acessível.

Chegando lá, realmente a balada bombava. Sem muitas demonstrações gratuitas de viadagem, o local oferecia um número razoável de gatinhas metidas a modernex. A noite prometia, mas eu ainda precisava de um pouco de álcool. Fomos pro bar.

Lá estava eu, terminando meu primeiro copo, quando chega o Luciano, todo esbaforido, contar para a turma que a Ana Paula Arósio estava dançando na pista. Ah, devia ser alguma menina parecida com ela. Quem conhece o Luciano, sabe que ele gosta de inventar. Ok. Virei pro balcão e pedi mais uma vodca.

As meninas foram pra pista e fiquei eu lá, no meio da bicharada, esperando meu drink. Sem stress. Era só não dar moral, que ninguém chegava junto. E nada da minha vodca. Encostei a barriga no balcão para cobrar o barman, mas ele estava no outro canto do bar. Nisso, alguém cutuca meu ombro. Devia ser o Luciano para contar que tinha mais algum ator da Globo na balada. E nada da minha vodca.

Eu virei bufando para ver o que era e... me deparei com aqueles dois olhões azuis, aquela cara de anjo, aquela boca doce se mexendo:
- Oi, como é que você chama?

Não, aquilo não podia ser verdade: a Ana Paula Arósio, na balada, vindo me xavecar... Mas ela estava ali, sim, arregalando os olhos, esperando alguma resposta.
- Ehhhh... Flávio. E o seu? - eu sabia que tinha feito uma pergunta idiota, mas ela respondeu tão rápido...
- Aninha. - ah que meiguice, que doçura, que...

Mas ela veio chegando mais perto:
- Então... é que eu queria... - obrigado Deus, eu nem tinha sido tão bom rapaz assim, mas tudo bem.
Ela colocou a mão na minha cintura:
- .. eu queria te... - milhares de verbos passavam pela minha cabeça, eu já me imaginava terminando a noite, deitado, me olhando num espelho redondo.Ela foi chegando oerto do meu ouvido:
- ...eu queria te apresentar um amigo. Esse é o Cássio.

Imediatamente o que era silêncio se transformou no som ensurdecedor de balada puts-puts. O foco de luz no casal protagonista virou uma estroboscópica. As pessoas reapareceram, a Ana Paula Arósio desapareceu e o amigo viado dela vem e pega no meu braço:
- Oi, você puxa ferro?

Nesse exato momento, chega minha vodca. Eu pego o copo e bato no balcão:
- Ah, vai tomar no cu!

Toda minha educação e meu comportamento politicamente correto foram pro espaço.
- E sai daqui!

Pô, o que você faria se o Nino do Castelo Rá-Tim-Bum chegasse pegando em você?

Bom, depois de tomar o que sobrou daquela vodca, eu só poderia rir da situação. E lembrar até hoje daquela balada como "A noite em que a Ana Paula Arósio veio me xavecar".