29.8.03

FESTA ZEN

Zen nozão, que fique claro. Sexta-feira de outono, mudança de lua, a Michelle me concede um habeas corpus porque naquela noite ela iria à despedida de solteira de uma amiga do colegial na Jive. Invoco todos os orixás para me lembrar que somos um casal moderno, que não é pra ter ciúmes, que é pra relaxar e ir também pra balada com os amigos.

O fiel cavaleiro Fausto Edmundo se apresenta trazendo um cálice de esperança para aquela noite. Uma festa zen perto do Hotel Unique, no final da Brigadeiro. Dica da recepcionista da firrrrma dele.

Chegando lá, um sobrado normal sem iluminação neon/prata de balada, nem balaústres ou incensos de eventos indo-orientais. Somente um segurança negro, 4x4, de terno e gravata, sério: "Bem-vindo ao Espaço Tantra". Contive a risada e entrei na parada.

Lá dentro, um balcão. E atrás, um jovem de cabelo microfone (tipo Black Power) com um bloco de comandas e uma caneta nas mãos. Ele fez as perguntas básicas de comanda de balada: nome, telefone, aniversário e... signo (?). O Microfone nem olhou para minha cara de espanto e já emendou: "Os sapatos, por favor. Deixe as impurezas da rua aqui na entrada, nessa estante". Olhei pro Negão 4x4. Ele apenas levantou as sobrancelhas. Achei melhor não desapontá-lo.

Mais pessoas entram no "lobby" da balada. Apesar da fila considerável que se formava, o Microfone continua explicando, em ritmo de tartaruga com cãimbra, como funcionava a filosofia daquele espaço. Entrei sem saber o final da história.

Bom, lá dentro, uma seqüência de bizarrices: uma sala com pufes, almofadas e uma TV que só passava filmes do Kubrick, outra sala em que um japonês meditava sem camisa ao som de... tecno (não era lounge, era pauleira mesmo), um gongo (sim, eu não resisti e gonguei forrrte. Veio uma mina falar um monte, que era um desrespeito, que não podia, foda-se, gonguei ela também), um espaço para atos teatrais (deixa eu reservar um parágrafo só pra falar disso).

Uns miguelitos começaram a circular pela festa inteira falando que em 5 minutos começaria um ato no andar de cima. A galera foi subindo e o tal espaço era uma sala com telas de mosquiteiro dependuradas bem no meio. Iluminação tosca, daquelas lâmpadas coloridas vermelhas e amarelas. Silêncio mórbido (até a hora do gongo). Quando a sala já estava praticamente cheia, me aparecem dois caras e duas minas, eles sem camisa e elas com uns colãs cor da pele. Eles centram em cena rastejando e assim permaneceram por 10 minutos, sibilando "Vem por aquiiiiiiiiiii, vem por aquiiiiiiii...." como serpentes tentando seduzir a platéia de Adãos e Evas. Mas aquilo estava bem longe de ser o paraíso. Eu já não agüentava mais tanto "Vem por aquiiiiii" até que uma das minas de colã se levantou e disse "Eu vou por ali!".(...) Acende-se as luzes, as pessoas estavam achando o máximo e começaram a aplaudir furiosamente. Furiosamente eu procurava o bastão do gongo, mas a mina da bronca deve ter escondido a parada.

Eu já tinha tomado algumas brejas e fui dar uma mijada. Qual não foi minha surpresa ao encontrar, descalço, um banheiro levemente alagado. Precisava ser macho. Macho pra mijar assim mesmo. Ou macho pra descolar um jardinzinho e se aliviar na frente de todo mundo. Ou macho pra conseguir segurar a onda até ir embora. Mijei assim mesmo.

Já eram altas horas e, pôrra, festa hippie-zen e ninguém queimando unzinho. Foi quando eu avistei um grupo de pessoas vindas diretamente dos anos 80. Santos sobretudos, santos óculos escuros. Colei. Eles estavam comentando que não tinham se identificado com nenhum ambiente do local, que cada um não se encontrava lá dentro. Dei um pega e disse que talvez o próprio lugar ainda não tivesse se encontrado, que não tinha um estilo definido. Noooooossa, os 80's adoraram, me chamaram de gênio, me pagaram brejas. Mas antes que o Morrisey chegasse mais perto, eu achei melhor dar um rolê.

Fui direto pra frente de um computador que tinha uma programação de mp3 rolando o som da festa. Canabis sativa na cabeça ativa, lá fui eu meter o bedelho na parada. Foi quando o japa que meditava sem camisa me advertiu em alguma linguagem arcaica. Logo depois eu vi ele conversando com o Negão e senti que era hora de me pirulitar. Respirei fundo, e fui tentar recuperar meu tênis e meu senso de ridículo. O tênis eu consegui.

1.8.03

NOMES IDIOTAS

Quase coloco SEM TÍTULO como título deste post. Mas já que é pra espinafrar, vou pôr o pior.

Você já deve ter se deparado com sorveterias, papelarias, restaurantes e outras microempresas de varejo cujos proprietários tiveram a feliz idéia de batizar seus estabelecimentos como SEM NOME. Nada demais, nos anos 80. Mas a cultura pop tratou de usar e abusar até o talo desta expressão

Disco Novo - de Kiko Zambianchi

Bistrô Bistrot - nos Jardins