26.3.04

MACHADÃO POSTANDO FORTE

Nunca fui um nerd da literatura. Mas estou relendo Dom Casmurro. Para quem quiser me acompanhar, visite este blog, que está no ar desde segunda-feira, com um capítulo novo por dia. Há comentários, você tem livre arbítrio sobre lê-los ou não.

24.3.04

CARA-DE-PAU

Histórias de elevador sempre encantam moradores de condomínios. O convívio não voluntário em um ambiente bastante fechado entre pessoas que não têm a menor intimidade é motivo para diversos causos. Protagonizei um desses ontem à noite.

Sabe quando você chega em casa tarde pra caralho, depois de um dia de trabalho dos infernos, louco pra cair na cama e dormir de roupa? Então, eu nem tinha estacionado o carro direito, já desliguei a chave e sai correndo para pegar carona no elevador da garagem. Um jovem senhor de 40 anos segurava a porta para o "moço não perder a viagem". Agradeci, do fundo do coração, a gentileza e entrei no cubículo.

O jovem senhor barrigudinho estava acompanhado de uma jovem senhora barrigudinha, tipo daquelas morenas que se tornam loiras (porrrque o Antonio Carrrlos gosta mais assim) e uma filhinha barrigudinha, de uns 4~5 anos, cara enfezada (de fezes, mesmo). Me espremi num canto do elevador, deixando a família de gordinhos mais à vontade. A pequerrucha folheava uma revistinha de quadrinhos:
- Olha, papai, tem um CD!
- Puxa, filhota, dá pra ouvir música!
- Que legal - emendou a mamãe.

Diante de tanta felicidade da família gordinha, até arrisquei um sorriso para a pequerrucha. Quando ela notou minha tentava de abertura, de aproximação, franziu a testa até esconder os olhos e soltou:
- Não tem graça nenhuma! Tá rindo do quê?

Congelado, apenas movi os olhos para a mamãe gordinha, que, percebendo a saia justa, lasseou uma desculpa:
- Ah, que vergonha, não sei onde ela aprendeu isso. Agora ela fala isso para todo mundo...
- Não, tudo bem.
- Ainda que ela não te chamou de cara-de-pau - emendou o papai.

Nisso, o elevador pára no térreo e entra um rapaz de mochila, tipo chegando da faculdade. Eu me espremo mais ainda para ele se acomodar. Quando o elevador começa a andar, o rapaz passa a mão na cabeça da menina. Eu apenas fechei os olhos, mas ouvi o grito dela do mesmo jeito:
- CARA-DE-PAU!

17.3.04

1984 - A Revolução Celular

Esse ano representa muito para muitos. Independente de George Orwell, das Olimpíadas de Los Angeles ou do lançamento do Macintosh, 1984 mudou minha vida para sempre.

Eu estava no pré-primário. Cartilha Pipoca. Tia Esméia. Corria o mês de abril. Era a vez da letra L e da tabuada do 7. Tenho deficiência nesses dois itens básicos até hoje por ter faltado uma semana às aulas do Externato "Ofélia Fonseca".

Tudo começou quando meia-dúzia de anticorpos se empolgaram com um gene que não tinha mais nada o que fazer e ficou dando idéia de ir lá no pâncreas zoar com as células Beta. Despretensiosamente chegando às ilhotas de Langerhans, deu-se uma luta sangrenta que dizimou as coitadas células que produziam insulina.

Resultado: os anticorpos queriam tomar uma para comemorar, mas não foram muito bem recebidos em nenhum boteco do corpo humano. Linchados sumariamente pela grande maioria da população celular, de todas as classes e raças, indignada por causa da nação de moléculas de glicose que passou a vagar pela corrente sangüíneas como uma legião de sem-teto.

Sem insulina, todas as portas se fechavam para as glicoses. Desempregadas, acabavam recorrendo aos órgãos de atendimento público do corpo humano, conturbando o fluxo de trabalho principalmente nos rins e periféricos. Para dar vazão à burocracia nefrática, estava sendo requisitada mais e mais água potável que diluísse a concentração das massas calóricas.

Uma falha de comunicação interna fez os neurônios entenderem a necessidade de água como uma simples sede. Para acabar com ela, litros e litros de suco de laranja inundavam o organismo, trazendo ainda mais glicose para a corrente sangüínea. Onde deveria haver 100 glicoses, havia 2.480. Pronto-socorro.

Depois de uma semana no hospital, a vida se tornou um pouco mais amarga para um moleque que nem gostava tanto de comer doces.

15.3.04

MELHORES MÚSICAS DO MUNDO (nesta tarde)

Maldito verano - LOS PIRATA
I believe in a thing called love - DARKNESS
Vencedor - LOS HERMANOS
Megalomania - AUTORAMAS

Acho que nunca falei dos Autoramas neste blog. Vou me redimir agora. Desde os tempos de Little Quail, eu sabia que o vocalista Gabriel Thomaz ia dar trabalho. É difícil encontrar personalidades rock'n roll no rock'n roll nacional. Não falo de piadas como Pitty (Avril Lavigne da Bahia) ou CPM 22 (Banda Gospel que não fala de Jesus). Criatividade musical, ironia, presença de palco, fico feliz em preceber que ainda existe "atitude" no rock nacional.

Já que eu fui por esses lados, também preciso citar Los Pirata. Apesar de nunca ter ido a nenhum show deles, já os coloco em um patamar de destaque no cenário da música poptrash nacional (? - eles cantam em espanhol). O disco tem apenas meia hora, ainda assim porque tem uma jam de onze minutos no final, mas ? um ant?doto de for?a (Que a força esteja cm você) para quem precisa de algo mais para sobreviver na Matrix.

Bom, Los Hermanos já foram assunto do post anterior, mas eu acabei não falando quase nada (positivo) sobre eles. Acho que boa parte da classe média universitária já teve a chance de ouvir o último CD deles e chegar à conclusão que eles não merecem o preconceito Anajúlico imposto pela haute culture/crítica/inteligenzia paulistana. Destaco o lirismo e atitude antipop do líder Marcelo Camelo e riffs sensacionais do guitarrista Rodrigo Amarante.

Darkness. Bem, acho que é a coisa mais divertida que aconteceu no rock dos últimos tempos. Algo como se o Ney Matogrosso ou o Edson Cordeiro se juntassem ao AC/DC para formar um novo Poison. É admirável que um ser humano inicie uma música cantando em falsete, falando sobre amor, tipo um Rivers Cuomo que não se leva a sério.

8.3.04

LOS HERMANOS

Fui ao show deles, sábado, no Palace. (Não tem jeito, nunca vou chamar aquela birosca de Directv Music Hall.) A apresentação foi legal. Teve até abertura de uma banda, banda mesmo, tocando marchinhas de carnaval para animar a galera.

Antes, eu e a Mi fomos para um "esquenta tamborins" na casa da Gica e do Rogerião. Iríamos de turminha, já que ainda teríamos a presença da Mabi (Maria Beatriz, amiga do Rogério) e reishpectivo namorado carioca-farroupilha.

A gente acabou saindo em cima da hora e, como a pista estava lotada, ficamos meio longe, logo na entrada. Só que o mais legal NÃO estava no palco. Um senhor de uns 55~60 anos, que chegou de mansinho e ficou do nosso lado quase que o show inteiro. Na verdade, ao lado da irmã da Mabi, que encontrou a gente lá dentro. De vez em quando, ele até dava uns güento na irmã da Mabi. Mas tudo no maior respeito.

Solos, gritos, aplausos, bis, mais aplausos, as luzes se acendem. E não é que o velhote era o Suplicy. Sim, ele mesmo: o senador, o ex-marido, o pai do Supla, o mito, o último homem de caráter em Brasília, o último homem de blazer em um show de rock.

Boiadas são sempre bem-vindas. Quando um senador da república sugere que a turma vá visitar o camarim, enfie os dois pés na jaca. No caminho, o jovem Eduardo cumprimentou, como se fossem da banda, 2 caras do staff, só por também usarem barba comprida. Me segurei para não fazer nenhum comentário. Afinal, sem ele, não estaríamos ali.

Falamos com os Hermanos, todos supergenteboa, mas não tinha nada de rango ou goró pra quem invadisse o camarim. Quando estava começando a lotar, eu dei o toque pro Suplão pra gente se pirulitar.

Os 3 casais ainda iríamos para uma festa na casa de um amigo nosso, ex-colega de firrrma da Michelle e da Gica. Detalhe: a aniversariante é gay e metade dos convidados também. Cordial e politicamente correto, como sempre, o senador recusou o convite (sem saber do detalhe).

Chegando lá fora, estava uma chuvinha. Cordial e politicamente correto, como sempre, ele perguntou se estávamos "de automóvel", pois ele teria o prazer de nos dar uma carona para que não pegássemos um resfriado. Cordial e politicamente correto, como nunca, recusei o convite.

3.3.04

A MONSTRA DA MÁQUINA DE CAFÉ

Onde se ganha o pão, não se come a carne. Seguir esse ditado aqui na firrrma não é muito difícil. Disk tem uma lenda que, quando nasce uma criança, Deus pergunta "Quer ser bonita ou trabalhar naquela firrrma?". Esse post é sobre uma criatura que escolheu muito a segunda opção.

Normalmente trabalhar me dá sono. Especialmente naqueles feriados em que você é escalado para fazer plantão. Pra completar, naquela tarde estava fazendo um calor dos infernos. Além de sono, trabalhar me dava sede. Então, fui fazer o refil da minha garrafinha de água no complexo social bebedouro/máquina de café/fumódromo.

Parênteses: no meu andar funciona o telemarketing de publicidade, um produtivo celeiro de tiazinhas que primam pela beleza e forma física, pelo bom gosto na escolha de indumentárias e também pela correção gramatical na utilização da linguagem verbal ou escrita. Na minha época de tabagismo corporativo, eu até convivia com algumas delas no fumódromo. No entanto, minha participação nos "diálogos" se limitava a resmungar concordâncias. Putz, do telemarketing inteiro, acho que só uma ou duas se salvavam, mas eram não-fumantes e provavelmente não-pensantes.

Pois então, lá estava eu, com minha garrafinha refil na boca da botija, quando chega uma dessas moças. Até que estou sendo bonzinho na descrição, assim como fui bonzinho ao cumprimentar aquele filhote de cruz-credo gigante que tem uma bunda que é o triplo do tamanho do tronco e que, apesar disso, só veste calças dois números menores que o indicado.

Eu esperava que ela passasse reto em direção ao fumódromo. Mas não. Ela vaio apertar um botão na máquina de café. A tal Lady Murphy devia estar conspirando para que aquele simples intervalo se transformasse num suplício. Eu fechei os olhos, rezando para ela não vir puxar assunto, mas era inevitável:
- Ai, que marasmo, né?

Eu abri os olhos, respirei fundo e levantei as sobrancelhas, concordando com a cabeça:
- É.
A porra do bebedouro devia estar com problema. Justo na hora que eu mais precisava que ele enchesse rápido a garrafinha, a torneira começa a falhar.

E a monstra não se contentava com minha clara demonstração que não estava a fim de papo. Encostou na máquina requebrando aquela bunda estratosférica de um modo que bloqueava totalmente a passagem do corredor. Com um braço inteiro levantado, como que acariciando a máquina de café, ela colocou a outra mão na "cintura", numa pose lânguida, sensual, de ataque:
- Bem que podia acontecer alguma coisa pra animar essa tarde, né?

Socorro! Antes que aquela monstra me agarrasse, fechei a garrafinha e, saída pela direita, sem olhar pra trás. Graças ao meu bom deus, nunca mais encontrei essa senhora.